Antes de Platão, Aristóteles, da Acrópole, antes de
Alexandre - antes da Guerra de Tróia - antes de Esparta...
Havia uma civilização como nenhuma outra em Creta, a maior
das ilhas gregas flutuando de forma auto-suficiente num espaço entre o sul da
Europa e o norte da África; era uma cultura de comércio marítimo. Há quatro mil
anos, pequenas aldeias agrícolas começaram a construir "centros
sagrados", geralmente chamados de "estruturas palacianas". O seu
fim permanece um mistério altamente contestado. Os valores da Creta antiga eram
semelhantes a muitas culturas e tradições indígenas - como os Haudenosaunee ou
os iroqueses: reverência por todas as espécies animais e vegetais e um sentido
profundo da natureza colectiva da existência.
Isso é muito diferente da arte e das representações que
surgem depois no continente grego, onde os heróis conquistam serpentes de nove
faces e realizam tarefas aparentemente impossíveis para Deuses e Deusas que têm
um relacionamento complicado com os seres humanos. O próprio nome da Europa vem
de Europa, que era uma jovem donzela atraída para fora de sua casa em Creta num
touro, como parte de um truque inventado por Zeus. Esses mitos vêm duma época
em que o domínio sobre a natureza é tido como fundamental: é a história que se
desenrola nas imagens narrativas da Acrópole de Atenas.
Os minóicos. A cultura deles era diferente daquela que veio
depois. Os seus centros sagrados eram dedicados a eventos políticos, artísticos
e culturais. O seu sentido do sagrado impregnava as actividades diárias. Esse
povo via a própria vida como sagrada. Houve uma redistribuição ou partilha de
bens e alimentos nesses locais, de modo que ninguém passou fome ou escassez. Há
muito pouca indicação de fortificação e armas, especialmente em comparação com
as civilizações posteriores, como os gregos micénicos. A arte minóica retrata
mulheres em posições de poder - como sacerdotisas com os braços erguidos em
estados de êxtase e muitas vezes nuas até a cintura. Homens são mostrados
cantando quando voltam da colheita, há vasos que mostram a alegre vida marinha
e estatuetas de cães sorridentes feitos de barro. Quando percorremos o museu,
não podemos deixar de pensar — uau, essas pessoas sabiam como se divertir. Elas
parecem felizes por estarem vivas.Viviam em harmonia com a natureza.
Os seus frescos retratam jogos que consistiam em saltar
sobre um touro. (Sim, falamos de pessoas que saltam sobre os chifres duma
criatura bovina.) Isso contrasta totalmente com o foco na violência contra os animais, como touradas e sacrifícios,
retratados nas civilizações que se sucedem à minóica. Os frescos minóicos
mostram figuras masculinas e femininas agarrando o touro pelos chifres e
saltando através deles dando uma espécie de salto mortal. Saltar sobre o touro
poderia ter sido um desporto sagrado e extático para a geração mais jovem ou um
tipo de iniciação.
O que torna a antiga cultura minóica diferente das que a
seguem - daquelas com as quais estamos mais familiarizadas e familiarizados na
cultura popular e na academia? Deixe-me dar um RESUMO em 8 PALAVRAS:
representação feminina, menos violência, sem escravidão, recursos partilhados.
Existem traços da visão de mundo minóica na nossa cultura? E
por que devemos preocupar-nos com Creta e a cultura minóica?
A resposta é simples: a esperança está em nós.
Elizabeth Chloe Erdmann é uma teórica apaixonada pela “Teologia Nómade”
- com uma profunda atracção pela história relacionada com a Deusa. Erdmann tem
mestrado em estudos teológicos pela Boston University, esteve associada à Amarkantak Tribal University na Índia e actualmente
faz um doutorado pesquisando sobre o Contemporary Feminist Goddess Worship
& Thealogy, na University College Cork, Irlanda. É autora publicada e
palestrante regular sobre cultura, religião e feminismo e co-lidera a
Peregrinação da Deusa, que tem lugar na Primavera a Creta, com Carol P. Christ.
Mora em Chittenango, no interior do estado de Nova York, nas terras ancestrais
da soberana Nação Onondaga, guardiães do fogo do Haudenosaunee - um povo
indígena matrilinear com muitos costumes semelhantes aos da Creta antiga. Envolvida
em ativismo e pesquisa com Sally Roesch-Wagner, no centro Matilda Joslyn Gage
para Justiça Social em Fayetteville, NY, considera-se uma mulher curiosa e
apaixonada pelos mistérios do mundo.
https://feminismandreligion.com/2020/10/26/a-story-to-inspire-hope-by-elizabeth-chloe-erdmann/#more-50552